Arte por Raphaele Caixeta
Texto por Marina Torres
A literatura e o jornalismo sempre se relacionaram. Os chamados suplementos literários já existem desde o século XVII e trazem livros transcritos em capítulos e resenhas críticas para os jornais em todo o mundo.
Com várias linguagens, visuais, formatos, conteúdos e tamanhos, os suplementos foram muito comuns e tiveram um papel fundamental na formação cultural brasileira. Contudo, as transformações na sociedade, na imprensa e no público leitor têm feito as seções literárias sumirem dos jornais modernos.
Na França, os jornais culturais surgem antes da Revolução Francesa. Um exemplo é o Journal de Savants, de 1665, que tratava de obras literárias e científicas. No século XIX, com a grande efervescência cultural, os jornais franceses começam a publicar os romances de folhetim, obras publicadas de forma parcial e sequenciada em cada edição.
O “Feuilleton”, ou folhetim, era um espaço do jornal destinado a críticas culturais e entretenimento e foi responsável pela popularização de grandes autores. Muitos livros de H. Balzac, Victor Hugo, Frédéric Soulié, Alexandre Dumas, Flaubert, Paul Féval e Georg Sand foram divulgados nesses espaços. O La Presse, pioneiro da era da imprensa industrializada na França, foi o primeiro jornal a publicar histórias em partes.
Em janeiro de 1839, o Jornal do Commercio publicou a novela “Edmundo e sua prima”, de Paul de Kock, no primeiro folhetim brasileiro. Nas décadas seguintes, com a estruturação da imprensa, os jornais brasileiros ficaram repletos de traduções dos romances clássicos franceses e, aos poucos, abriram espaço para as obras nacionais.
A partir de 1840, autores como Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar e Machado de Assis passaram a explorar as temáticas e a realidade brasileira e ganharam popularidade nas páginas dos jornais.
Nas primeiras décadas do século XX, as páginas e suplementos especializados em arte e literatura se tornaram comuns. Em parte, por causa do crescimento e capitalização da imprensa e da Semana de Arte Moderna de 1922, marco de renovação cultural do país.
Alguns suplementos conhecidos da época foram: o “Suplemento Literário” (1956-1974) do O Estado de S. Paulo; o “Supplemento” (1932- 1943) da Folha da Manhã; o “Suplemento Literário”; o “Arte, Literatura e Crítica”, do Diário de S. Paulos. As páginas eram compostas por seções fixas e colaborações livres e tinham contos, sonetos, artigos, notas e críticas sobre artes plásticas, arquitetura, cinema, teatro, literatura, medicina, filosofia etc.
A partir de 1964, ano do Golpe Militar, censuras rigorosas foram aplicadas aos meios de comunicação e muitos jornais deixaram de existir. Os suplementos literários e artísticos não eram mais prioridade para as companhias midiáticas. Hoje, assistimos a uma profunda transformação no jornalismo, na imprensa e, consequentemente, nos cadernos literários.
A sociedade moderna precisa de muita informação o mais rápido possível. Essa característica tem criado leitores menos dedicados, que querem uma linguagem menos literária e mais objetiva. Ainda assim, alguns veículos contra-fluxo tentam mudar esse cenário, como o Jornal Rascunho, de Curitiba. O periódico é dedicado unicamente à literatura e publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção e ilustrações.
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